O JULGAMENTO (ATRASADO) DA DITADURA

By , 02/09/2025 8:50 am

Memélia Moreira

Nesta terça-feira, dois de setembro de 2025, quando começa o julgamento mais importante da nossa História quem vai se sentar no banco dos réus é a ditadura militar que governou nossa terra por 21 anos. Essa ditadura que começa a ser julgada com mais de 40 anos de atraso, será representada por 22 militares que queriam reviver os 21 mais sombrios vividos pelo povo brasileiros.

Os 22 militares dos quais, quatro generais, um almirante, um brigadeiro, coronéis e outras patentes mais baixas queriam voltar a prender, torturar, matar, estuprar as mulheresm ocultar os corpos daqueles que eram assassinados nas prisões, desestruturar famílias – a minha entre elas – apenas porque essas pessoas faziam oposição ao regime.

No julgamento que começa nesta terça-feira, o réu com mais crimes cometidos será julgado “apenas” pela fracassada tentativa de golpe de Estado que comandou para se manter no poder e continuar como presidente da República do um país. Um país que ele mesmo mergulhou na fome, obrigando pessoas a brigar por ossos nas portas dos supermercados, no desemprego, no desespero da desesperança. O réu principal é o ex-presidente da República JAIR BOLSONARO. Ele não será julgado pelo crime de omissão cometido durante uma pandemia que matou milhões de pessoas pelo mundo. Entre 2020 a 2022, foram mais de 750 mil brasileiros mortos pelo vírus do Covid-19. Desses mais de 750 mil ele é o responsavel direto pela morte de 400 mil, simplesmente porque se negou a comprar a vacina que reduziria a tragédia e o medo que vivemos. Por esse crime, ele não será julgado agora. Quem sabe um dia conseguiremos.

Durante esse julgamento será impossível não pensar nos companheiros assassinados pela OBAN, torturados pelo delegado SÉRGIO FLEURI, pelo coronel Brilhante Ustra, pelo Cabo Anselmo. Impossível não pensar nos guerrilheiros do Araguaia. Muitos dos corpos desses guerrilheiros que mesmo presos e derrotados foram mortos nas torturas e até hoje suas famílias esperam seus ossos para a cerimônia do adeus.

Fui atacada pela insônia provocada pelas lembranças que nunca que nunca serão cicatrizadas pelo tempo. Lembranças dos sussurros que éramos obrigados a praticar como estratégia de sobrevivência, lembranças dos choros pelos amigos que morriam e outros que desapareceranm e nunca saberemos onde jogaram seus corpos.

Apesar da insônia vou me libertar do sentimento da vergonha e inferioridade que sempre senti de outros hermanos de nossa América que passaram por ditaduras tão ou mais sanguinárias que a nossa, mas julgaram seus algozes. Vou me libertar da inveja que sentia da Argentina. Em 1986, três anos depois do fim daquela ditadura, seus militares sanguinários foram um a um sendo julgados e presos. Não vou sentir inveja do Chile, que manteve PINOCHET, o pior de todos os ditadores de nosso continente, em prisão domicilar. E nem vou mais sentir inveja do Urugau que também demorou a julgar a ditadura mas começaram a fazer justiça há quase 15 anos.

A partir deste 2 de setembro minha alminha inquieta vai ter motivos para se sentir menos culpada diante das vítimas da ditadura porque não tínhamos conseguido julgar nossos algozes.

Conseguimos, companheiros! Não são aqueles mesmos, mas são iguais.

Leave a Reply

You must be logged in to post a comment.

Panorama Theme by Themocracy