ALI-BABÃO E SEUS 36 PEÕES

By , 21/11/2024 10:25 pm

Foram 9 Civis, 4 agentes/delegados da Polícia Federal, 1 subtenente, 2 capitães, 2 majores, 12 coronéis, 6 generais e 1 almirante, todos comandados por um dos capitães.

Esse foi o grupo que tentou apunhalar todo um povo.

Entre os civis, 1 padre, 2 engenheiro, um advogado, 1 político, 1 empresário e 4 SPD (Sem Profissão Definida).

Aqui estão eles que foram hoje indiciados pelo crime de “ABOLIÇÃO VIOLENTA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO”. Linguagem sofisticada para explicar o crime de golpe de estado e terrorismo”.

Pelas patentes de cada um, da mais baixa à mais alta, vamos a eles.

CIVIS

1 Carlos Moretzsohn – engenheiro

2 Felipe Martins – seguidor de Olavo de Carvalho, assessor especial de Assuntos Internacionais de Bolsonaro – Sem Profissão Definida

3 Fernando Cerimedo – Argentino. Sem Profissão Definida (influencer) Gabinete de Fake News.

4 José Eduardo de Oliveira e Silva – Padre. Sem profissão definida – Gabinete de Fake News.

5 Amauri Feres Saad – Advogado

6 Marcelo Costa Camara Sem Profissão definida (olheiro)

7 Paulo Renato de Oliveira Fiqueredo – empresário. Neto do último ditador -João Baptista Figueredo

8 Tércio Arnaud Tomáz – Sem profissão definida – Gabinete de Fake News.

9 Waldemar da Costa Neto – ex-deputado Federal, presidente do PL

POLÍCIA FEDERAL

1 Alexandre Ramagem – deputado federal, ex-chefe da Abin, candidato derrotado à prefeitura do Rio.

2 Alexandre Torres, ex-policial civil, ex-PF, ex- ministro da justiça, ex-secretário de Segurança do DF

3 Wladimir Matos Soares – ex-segurança de Lula durante a campanha de 2022

4 Marcelo Bormavet

SUBTENENTE

1 Giancarlo Gomes Rodrigues.

CAPITÃES

1 Ailton Moraes Barros

2 JAIR MESSIAS BOLSONARO – ex-presidente da República

MAJORES

1 Angelo Martins Denicoli (na reserva)

2 Rafael Martins de Oliveira (era major na época da conspiração, agora é tenente-coronel)

CORONÉIS

2 Alexandre Castillo da Silva

2 Anderson Lima de Moura

3 Bernardo Romão Correia Neto

4 Carlos Giovani Delvati Pasini

5 Cleverson Nei Magalhães.

6 Fabrício Moreira Bastos

7 Guilherme Marques de Oliveira.

8 Hélio ferreira Lima

9 Laércio Virgílio

10 Mauro Cid

11 Ronald Ferreira de Araújo Filho

12 Sérgio Ricardo Cavalieri de Medeiros

GENERAIS

1 Augusto Heleno ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional

2 Braga Neto – ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro

3 Estevam Cals Gaspar de Oliveira – (Comandante de Operações Terrestres)

4 Mario Fernandes – estrategista do golpe.

5 Nilton Diniz Rodrigues.

6 Paulo Sérgio Nogueira ex- comadante do Exército e ex-ministro da Defesa.

ALMIRANTE

1 Almir Garnier dos Santos.

Essa tropa de terroristas foi comandada por um homem chamado JAIR MESSIAS BOLSONARO, um homem medíocre frustrado porque seu projeto de golpe miltar sangrento, projeto que vem pregando desde os anos 90 falhou mais uma vez.

Eles jamais desistirão. É bom lembrar que o golpe de estado de 1964 começou em 1954 e só foi interrompido pelo gesto final do presidente Getúlio Vargas que cometeu suicídio e adiou a quartelada, vitoriosa dez anos depois Podem ter certeza que estarão sempre à espreita e não duvido que já tenham começado a tramar para 2026.

O preço da Democracia e do Estado de Direito nos exige jamais cochilar.

Então vale repetir e praticar quantas vezes for necessária a palavra dos escoteiros e permanecer “SEMPRE ALERTA”.

“Ou ficar a Pátria Livre.

Ou morrer pelo Brasil”

PARA CONCEIÇÃO PORQUE SEMPRE ESTAREMOS AQUI

By , 09/11/2024 1:40 pm

Ah, Conceição Freitas teu texto sobre o filme que nos fala de Eunice, das nossas lutas, dos sonhos destruídos é mais um primor. Mas isso não é nenhuma novidade. Afinal de contas, nós que te lemos temos absoluta certeza de que es capaz de transformar uma pedra sem glamour num diamante cobiçado.

Li e até reli teu texto sobre o quase sacrifício que é deixar nossa poltrona com mantinha e almofadas, biscoitinho e café quente, luminosidade adaptada aos nossos olhos e sentar em cadeiras enfileiradas com sons em alturas que incomodam nossos ouvidos e uma luminosidade não calculada para todos os olhos. Mesmo assim pratico ese exercício com uma certa frequência para não trair minha raízes de cinéfila.

Bom, hesitei e ainda hesito diante do filme que fala de Eunice. Ela foi minha amiga, minha hóspede dezenas de vezes quando chegava em Brasília ainda nos anos 70 não apenas pra buscar pistas do paradeiro do deputado Rubens Paiva mas, também, advogando em defesa dos direitos indígenas. Eunice foi, por muitos anos, advogada de várias causa quase perdidas de diferentes povos indígenas, desde os Kaiowá de Mato Grosso do Sul aos Macuxi de Roraima.

Terminado o dia, ela quase sempre chegava na minha casa no começo da noite, ainda com sua pequena valise de viagem, suficiente para passar uma noite em Brasília, tomava um banho rápido e nos sentávamos para conversar, para conspirarmos em favor do Brasil, sonhávamos com a liberdade, com o dierito de enterrrar nossos mortos. Geralmente as conversas eram na mesa da cozinha onde tomávamos um caldo quente ou apenas beliscávamos intermináveis fatias de queijo com pão.

Muitas vezes a madrugada surpreendia nossas conversas sempre intermináveis que em muitos momentos continuava na semana seguinte porque eram tempos que a luta quase não nos deixava dormir.

Doce, serena, fala tranquila de quem guarda a sabedoria da vida, Eunice era uma presença que deixava no ar um gosto de tenacidade. Nem sempre nos despedíamos porque ela acordava cedo e saia com sua valise. Para São Paulo ou para a peregrinação dos tribunais.

Esse ritual durou alguns anos. Pelo menos até a demarcação do território Yanomami. Depois não nos vimos nunca mais, mas nos acompanhávamos à distância. Nossos amigos eram nosso elo.

E, quando vi Walter Salles debruçado no projeto do filme, neu coração se aqueceu porque ele manteria viva não apenas a história de brava Eunice, mas nossa História de lutas, a história de dezenas de mulheres que ainda hoje procuram seus filhos, filhas, maridos e irmãos devorados pelas botas dos facínoras.

Mas, quando foi anunciado o nome da atriz que interpretaria Eunice, senti um mal-estar. Meu mal-estar sempre é representado por uma dor desconfortável no estômago que já até me levou a exames médicos.Queriam descobrir úlceras, câncer. Se me ouvissem, não me submeteriam a esses testes.

O mal estar foi provocado pelo oxímoro Eunice- Fernanda Torres. Fico imaginando que malabarismo fez essa atriz para interpretar o suave olhar de Eunice. Para mover os braços com a tranquilidade e força de Eunice e, sobretudo, para mostrar a humildade corajosa de Eunice Paiva.

Não consigo dissociar a atriz fernanda Torres daquela desprezível fuga do centro de vacinação que aplicava doses de vacina contra o Covid. Ela saíu correndo pela rua porque a vacina não era “gourmet”. Enquanto milhares de brasileiros sonhavam em receber a agulhada da salvação e faziam filas gigantescas na luta pela vida contra um vírus que matou milhoes mundo afora, a arrogância da mulher mimada e snob não aceitou a vacina disponível porque não era a Astra-Zeneca. Aquele episódio marcou eus sentimentos em relação àaessa atriz. Se antes era neutro, passou a ser de desprezo.

Então, não tenho certeza se quero assistir Eunice interpretada por seu oxímoro.

Não me importa que receba prêmios, que seja laureado com a mais kitsch de todas as estatuetas que é o Oscar” e que atraia milhões de espectadores.

Por enquanto – e nada impede que eu mude de opinião – fico com a imagem da minha querida amiga, sentada na cozinha de um apartamento da 304 sul, tomando um caldo de milho com frango ou um caldo verde, falando de nossas esperanças por um Brasil grande, soberano e sem botas manchadas com o sabgue da nossa resistência.

BRUXA SIM, MAS DE CHANEL 5

By , 30/10/2024 3:14 pm

Uma vez por ano eu, a #Bruxa e minhas amigas #Sorcière a #Witch nos encontramos para um fim de tarde. E, nossos trajes tem a mesma cor. Seja qual for modelo escolhido, vamos de preto, nos maquiamos e nos perfumamos. Acontece que pelos códigos de uso de perfume da senhora minha mãe, depois das cinco só Chanel. E Chanel 5. Nada de perrfumimho com cheiro de adolescente.

E, igual todos os anos, vamos sempre ao mesmo bar. Paredes pintadas de preto e luzes em sépia. Assim, podemos ficar horas repousando nossas retinas porque a claridade sempre nos incomoda.

Quando o elegante garçon nos entregou o cardápio, gastamos mais de duas hora para decidir. Lá fora já estava escurecendo.Tudo culpa da Sorcière que sempre levanta polêmicas. Dessa vez ela nos perguntou que comidas as bruxas gostam. Antes que a Witch se manifestasse, Sorcière foi logo avisando, “não vale nenhum tipo de sanduíche”. Resolvi mediar. Com uma calma que não é minha e sem dizer que apoiava os sanduíches fui logo ampliando o menu, “bruxas comem de tudo, carne, peixe, mexilhões, carangueijos, tomates fritos, recheados, crus, o que que for comestível”. Animada, Witch disse, “é, eu até conheço bruxa que é vegetariana”. Quis rir, mas Sorcière de olhos muito abertos, reagiu “Witch minha amiga, bruxas são iguais a todo mundo, só que são bruxas. Eu até conheço bruxas más. Se há bruxas más, pode haver bruxas veganas, vegetarianas, onívoras, carnívoras”.

Sorcière estava terrível hoje. Então foi minha vez de provocá-la; “E que bebidas as bruxas bebem?”. Ela prontamente respondeu. “em primeiro lugar, champagne. Mas podem até beber coca-cola, suco de cupuaçu, de murici”. Witch que nem estava nos seus dias flamboyants emendou, “e chocolate quente”. Pedimos champagne, como é do nosso hábito. Elas comeram pratos semelhantes, pasta com diferentes acompanhamentos. Mergulhei num filet sangrando e passamos a filosofar.

O comportamento de Witch me surpreendia. Ela estava com um olhar distante, quase triste e, de repente, eles se encheram de lágrimas. Sem disfarçar, passou a falar mais rápido que o habitual e pediu outra champagne. No brinde, desabafou, “e pensar que hoje festejamos o dia das bruxas quando, num passado nem tão distante, na minha terra, em Salém, elas foram queimadas vivas porque eram bruxas..

Sorcière, com aquele espírito competiitivo reagiu, “ora no meu continente, jogamos milhares de bruxas na fogueira”,

‘Meninas!”, pedi com voz autoritária, se é para disputar, quero lhes dizer que na minha terra, na minha Brasília, em pleno século XXI, só esse ano mataram mais de 400 mulheres. E nem precisaram jogar na fogueira. Nem todas eram bruxas.

O crime, continuei , tem até nome, chama-se “feminicídio”. E transformou-se em epidemia. Matam com balas, facas, pauladas, asfixia…

Choramos as três juntas. Enxugamos as lágrimas e cantamos “viver em acampamento onde o fogo jamais cessa, sentimo-nos unidas, pela nossa promessa”.

Então nos abraçamos e marcamos o próximo encontro. Paris ou Salém?

Sabe-se lá.

FIM DE LINHA PARA BIDEN/NETANYAHU

By , 26/02/2024 9:01 am

Nem todo poderoso arsenal bélico determina a vitória de um país numa guerra. Porque uma guerra para ser vitoriosa tem necessidade, antes de tudo, da vitória política. Caso contrário, serão apenas amontoados de mortos chorados e venerados.

Se apenas o arsenal contasse para a vitória, o Vietname, com um milhão de mortos teria sido derrotado pelos Estados Unidos, que perdeu 56 mil jovens, naquela guerra preparada por John Kennedy, que morreu em 1963, continuada ferozmente por seu sucessor, Lyndon Johnsohn e que só no governo de Richard Nixon, no começo dos anos 70, viu o tratado de paz. Um tratado de paz que foi quase uma rendição do país mais armado e poderoso do mundo diante de um povo que até hoje come arroz com duas varetinhas chamadas #hashi.

Porque a vitória política é o ingrediente prioritário de qualquer guerra. E, politicamente, nessa guerra genocida de Israel/EUA contra o povo palestino, um povo que sequer tem direito a um Estado, as armas poderosas de Israel, não tem sido suficientes para a rendição de um povo que já não tem casa e comida passou a ser artigo de luxo.

Guardem essa data, 25 DE FEVEREIRO, um domingo que parecia ser igual aos outros.

Foi ontem, domingo, 25 de FEVEREIRO DE 2024 que os dirigentes de Israel, Benjamyn Netanyahu e dos Estados Unidos, Joe Biden, começaram a dar os passos na estrada da derrota. Foram acontecimentos distintos, mas acontecimentos simbólicos desses que chacoalham as almas das sociedades.

O primeiro foi de um ineditismo impressionante. Um militar americano da Aeronáutica, ateou fogo no próprio corpo, em frente à embaixada de Israel, em Washington. Conheço a área. É chique. Gesto que marcou a guerra do Vietname, quando monges budistas se imolavam nas montanhas do Tibet, seus corpos queimando em protesto contra a guerra do Vietname.

Antes de ser socorrido, o militar americano gritava “não quero ser cúmplice de um genocídio”. Era um grito cansado porque ele estava com dificuldades de respirar. Os serviços secretos dos Estados Unidos mantém sigilo sobre seu nome e patente e ele está em estado grave, ainda ardendo internamente e caso não consiga sobreviver ao sacrifício, as ruas dos Estados Unidos vão assistir manifestações contra Joe Biden. Manifestações que possivelmente o derrotem nas eleições de novembro.

O mesmo aconteceu com Trump. Em maio de 2020, ele parecia ter uma vitória incontestável para a reeleição. Mas no dia 26 de maio, sem ar, o negro George Lloyd, com as botas de um policial branco no seu pescoço sufocado, dizia, “eu não consigo respirar”. Foi o suficiente para levantar um país inteiro. E em 12 de junho, na primeira pesquisa pós-Lloyd, Trump estava no tobogã que o derrotou.

Portanto, Biden devia acender velas e se preparar.

Horas depois, da tentativa de imolação do militar americano, em Tel-Aviv, uma multidão de manifestantes ocupava as ruas da capital de Israel pedindo o afastamento imediato do primeiro-ministro, o genocida Netanyahu. A manifestação foi convocada pelos familiares dos reféns que ainda se encontram nas mãos do Hamas em local incerto, talvez até em outro país. Eles estão há 144 dias nas mãos do inimigo e o país mais armado do Oriente Médio não consegue resgatá-los.

Na manifestação, que seguia de forma pacífica, os israelenses sentiram na pele o ódio que poreja nos corpos sionistas, notadamente do carniceiro Netanyahu. A polícia de Tel-Aviv baixou cassetetada nos manifestantes, gás lacrimogêno e gás de pimenta eram jogados contra a multidão. Familiares dos reféns do Hamas foram presos. Sim, repito, FAMILIARES DOS REFÉNS DO HAMAS FORAM PRESOS pelos policiais de Israel porque carregavam cartazes exigindo todos os esforços para trazer os filhos de volta para casa.

Esses dois acontecimentos marcam a derrota política dos senhores da guerra. A depender da sobrevIvência do militar que tocou fogo no corpo, caso aconteça o pior, Joe e Jill já devem começar a encaixotar seus pertences pessoais e marcar a passagem de volta a Newwark.

Quanto a Netanyahu, esse, a cada dia assiste a derrocada de seu sonho poder absolutista.

Porque a guerra, como muitos outros atos, até aqueles que parecem inúteis, está sempre condicionada à vitória política.

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A CUMPLICIDADE DE UM SANTO BISPO

By , 25/02/2024 3:09 pm

Aí estão dois personagens da luta de defesa dos camponeses do sul do Pará. Os padres Ricardo Rezende e Aristides Camio. Os dois enfrentarem a ira dos pistoleiros e do Estado brasileiro sempre conivente ou cúmplice de grande grileiros, fazendeiros e madereiros que infestam uma das mais conflitadas regiões do país. Ricardo escapou de muitas emboscadas de pistoleiros, Aristides, e seu colega François Gouruiu, sentiu a mão cruel do Estado quando foram encarcerados e acusados de incitar a luta de classes. No caso, porque estavam ao lado dos camponeses, muitos deles assassinados por pistoleiros, e as sempre aliadas forças policiais do Estado.

No diálogo entre esses homens que viviam se desviando das balas e ameaças de morte, eles se referem a uma das muitas loucuras que fiz em defesa da “terra para quem nela trabalha” e em nome de um jornalismo que buscava equilíbrio da informações “oficiais” e a dos povos esquecidos e inivisibilizados pela imprensa.

Minha loucura tinha a benção da Igreja Católica, religião na qual fui educada, igreja que respeito por sua resistência contra os dominadores. No caso específico, não apenas a benção, mas a cumplicidade de um homem, o bispo DOM LUCIANO MENDFES DE ALMEIDA que ,à época dos fatos, era secretário-geral da poderosa CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, a quem sou agradecida inclusive pela integridade física de minhas filhas quando fui ameaçada pelas bombas da direita, em 1978.

Igual a tantas outras aventuras, quase sempre perigosas, que vivi, essa também tem sua cota de comédia.

Os missionários franceses, Aristides Camio e François Gouriou tinham sido presos. Tudo porque na celebração da missa, em São Geral do Araguaia, célebre por ter sido a sede de uma das mais aguerridas guerrilhas rurais do Brasil, Camio se referindo à impotência dos camponeses contra os fazendeiros e pistoleiros disse, “um marimbondo sozinho não faz nada. Muitos marimbondos juntos incomodam”. A frase foi suficiente para que os dois caíssem nas garras do Estado.

Os presos foram transferidos para a carceragem da Polícia Federal em Brasília.

Numa sexta-feira, na sala de imprensa da CNBB, Dom Luciano disse que visitaria os presos no dia seguinte. Escrevi minha matéria ali mesmo e fui tomar café com as freiras que fazam deliciosos biscoitos. Sentadinho e quieto numa das mesas do refeitório, Dom Luciano fazia seu lanche da tarde. Ora, meu instinto jornalístico disse “Ôba, é agora”. Dom Luciano gostava muito de mim. Sentei perto dele e, como se fosse muito simples, disse, “Dom Luciano, eu vou com o senhor visitar os padres presos”.

Na sua santa quietude, ele me olhou como se eu anunciasse a disposição de incendiar Brasília. Não e não, ele respondeu.

Choraminguei, reclamei da vida, falei que assumiria toda responsabilidade, ça vá sans dire, só faltei me ajoelhar para beijar a mão do bispo.

E ele, impávido colosso, parecia inatingível quando, de repente, quem sabe o ‘Espírito Santo” estivesse ali por perto, perguntou. “E como vamos fazer?”, Youpiiiiiiiii!, meu grito de guerra ressoou pelos corredores da CNBB. Deve ter sido inclusive ouvido na Nunciatura Apostólica, construída ao lado do pédio da CNBB.

Eu já tinhao figurino certo. E respondi, “ora, vou vestida de missionária que trabalha nos confins da África”. Claro que Dom Luciano achou impossivel porque sempre me vesti feito hippie, bem colorida, saias largas e túnicas, cheia de colares e chapéu.

Dom Luciano duvidando, disse, “tudo certo, mas vamos juntos para ver se aprovo essa sua roupa de missionária”. A visita começaria às duas da tarde.

Pouco depois do meio-dia, telefonei para meu jornal (Foha de São Paulo) e disse, “olha, se vocês nao tiverem pressa, às cinco tenho matéria exclusiva e explosiva”. Não adiantei o assunto, mas contei com a confiança que eles depositavam em mim.

De saia preta estampada de delicadas florezinhas brancas, blusa branca com viés preto e botões pretos, cabelo com um coque de secretária executiva do Banco Mundial, um belo crucifixo em ônix que mamãe tinha comprado na Espanha, uma Bíblia pequenina e preta na mão. Comprei numa livraria no caminho. Bolsa preta com meus documentos, dinheiro para táxi e um terço.

Dom Luciano riu discretamente e só faltou abrir a boca de espanto. Mas, no fundo ele sabia da minha capacidade de ser quem quero ser.

Passamos tranquilos pela vistoria da PF. Ainda disse amém com as mãos juntas quando o moço da PF fechou a bolsa de tão inocente conteúdo.

Minha memória é boa. Não precisava de lápis ou papel para anotar todas as informações.

Na sala onde os padres estavam presos, um início de conversa absolutamente protocolar. Cinco minutos depois, comecei as perguntas. E foram muitas. Meu Deus do céu, eu tinha um diamante bruto na minha mão e a cabeça num furioso redemoinho de letras e frases se encaixando.

Padre Novack, que dirigia o carro da CNBB com Dom Luciano, me deixou na esquina do jornal e, no domingo, a “Folha de São Paulo” anunciava em letras grandes e pequenas que o morto durante a emboscada que os camponeses fizeram não era um policial militar do Pará. Era pistoleiro dos grileiros que expulsavam os camponeses sem terra. Era a prova explícita de que os agentes do Estado serviam aos interesses dos selvagens fazendeiros,

E eu, que nem estava de plantão naquele sábado de aventura, no domingo li a matéria que estava bem tratada, li os jornais do dia na banca da esquina, peguei minhas filhotas e fui para clube, com a consciência de dever cumprido*

*Muito cedo, bem antes dos 20 anos, honrando a tradição de minha famĺia, fiz minha profissão de fé para a vida. A de defender os dominados contra os dominadores. Fossem quem fossem. E continuo leal a esse prncípio,

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TESES E FILHOS

By , 23/02/2024 8:46 am

(Desculpem o ataque de vaidade)

Sou de natureza aquática. Ou seja, choro igual bezerro desmamado. Choro quando assisto “Casablanca”, sempre na mesma cena. E já asssisti 78 vezes. Contadinhas no caderno. Choro quando a mata queima e sei que os bichos das matas estão correndo desesperados. Choro quando vejo imagens das crianças palestinas, choro quando uma criança está chorando de sofrimento e eu não posso ninar. Devo ter um aqüifero de lágrimas em algum lugar do meu corpo.

Mas comecei a ler a tese da minha filha caçula e aí derramei as águas do Xingu, do Amazonas, do Araguaia, do Anil, do Branco, do Caomé, do Uaricoera todas essas juntas escorreram e ainda estão escorrendo dos meus olhos.

Sempre quis ter filhas. Eu queria ter seis filhas, mas a Natureza não me ajudou porque a Natureza é sábia e sabe que só tenho dois braços. Então, ela me concedeu duas filhas. E tenho orgulho das duas. Elas fazem bem o que elas escolheram fazer. Jamais criei expectativa para que elas fossem isso ou aquilo. Mas sempre tive dois sonhos. Que elas fossem felizes e fizessem bem feito o que elas escolheram fazer na vida. E assim aconteceu.

Comecei a ler a tese da minha doutorinha que quano criança queria ser bailarina, astronauta e cientista e hoje é professora e posso dizer que é cientista porque Antropologia é uma ciência que exige amor e saber.

Quando esbarrei nos agradecimentos, comecei a chorar. Nossas vidas juntaas passaram na minha frente. Decidi trazer aqui a parte dos agradecimentos que me diz respeito e me encheu de vaidade e de saudades de duas menininhas que são meu tesouro.

Segue aí o texto que faz parte dos agradecimentos da tese.

“Entre os colegas e amigos seniores, os diálogos francos com Aristóteles Barcelos Neto me

estimularam a continuar e não me desviar das sendas etnográficas. Miguel Aparício Suárez, agora

compadre, a quem sempre recorro com dúvidas e dilemas, me estimula e impele a continuar. Na

França, Nathalie Pétesch me apoiou e estimulou, além de ter provido a karajologia com um dos seus

insights mais importantes, que é o da estrutura triádica. Os antropólogos que frequentaram a casa da

minha infância foram certamente o primeiro chamariz a essa ciência e a esse mundo fascinante e

cheio de desafios. Patrick Menget, Nathalie Pétesch, Dominique Buchillet, Bruce Albert e,

tardiamente Christian Geffray: vê-los ir e vir de campo, ver suas longas esperas por autorizações da

Funai naqueles anos 1980, acompanhar de perto seu envolvimento não apenas com os índios

enquanto fornecedores de dados interessantes mas enquanto parceiros, amigos e sujeitos que

precisavam de apoio contra as invasões, as injustiças e os massacres. Crescer vendo seu trabalho e a

luta em conjunto com os índios certamente formou boa parte da antropóloga que me tornei.

Agradeço a Ricardo Cavalcanti-Schiel que me apoiou e deu suporte nos tempos em que

dividimos nossas vidas.

À minha família por afinidade agradeço a Fernando, Cida e Laís Geiser, pelo suporte e

apoio. Especialmente a Cida por ser minha leitora entusiasta e por fazer perguntas que me mostram

como devo me expressar para ser compreendida por leitores não especialistas.

Na minha família, certamente nada disso existiria se eu não fosse filha de Memélia Moreira, jornalista combativa e apaixonada por sua profissão e pela causa indígena. Essa mulher

forte, “minha doce guerreira” que vi virar tantas noites misturando escrita, pranto, luta e luto. Sua

generosidade sem igual trouxe ao meu universo infantil histórias, índios, antropólogos, indigenistas,

sertanistas, todos na mesma minha casa, que já foi chamada de “QG do indigenismo brasileiro” por

um certo antropólogo francês.

A meu pai, Kristian Schiel, que foi ao Xingu muito antes de conhecer minha mãe, me

ensinou a amar “todos os matos do mundo” e me apresentou Karl May e Winnetou, o apache que

encanta todo menino alemão, de Kristian a Curt Nimuendaju.

A minha irmã, Cristina, que compartilhou comigo essa infância sui generis, foi meu ponto

de apoio nas idas e vindas de campo, primeira casa que me recebia quando eu chegava das viagens.

À família que fundei. Agradeço ao Gustavo Geiser por todo o carinho, o apoio, o suporte, a

amizade, o diálogo absolutamente franco em todo e qualquer assunto. E finalmente, agradeço a Iara

e Mathias por me mostrarem a cada dia tudo o mais que há nessa vida.”

Novamente, desculpem meu surto de vaidade

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TERRORISTAS

By , 21/02/2024 2:42 pm

John Adams, o segundo presidente dos Estados Unidos e considerado um dos “fundadores” do país, era terrorista. Promoveu inúmeras ações de sabotagem contra a Inglaterra, na época governada pelo rei George III.

Os revolucionários franceses que derrubaram a mais absolutista das monarquias e passaram a guilhotinar reis e nobres, também eram terroristas. Foi lá que a palavra triunfou.

Toussaint l’ Overture, herói da independência do Haiti, em 1804, era terrorista e morreu numa prisão francesa.

Mas, com a prisão dos “terroristas” franceses o termo ficou escondido por mais de três séculos até que nos anos 60, os combatentes da FLN que lutavam pela independência da Argélia contra o domínio francês foram “agraciados” pelo adjetivo. O Estado francês se encarregou de resgatá-lo. Mas o grupo paramilitar de extrema direita da OAS (Organisation Armée Secrète) que inculsive tentou matar o general de Gaulle, jamais foi chamada de terrorista. Porque a expressão “terrorista” jamais se aplica à Direita.

Quem gostou muito da retomada do termo foi o os EUA que, dois anos depois da independência da Argélia, começava a implantar ditaduras de norte a sul da América Latina. E a linguagem escolhida pelo Império para assustar aquelas camadas da população desinformada e miserável demais para se informarem, foi a linguagem do medo. Nada melhor do que o uso da palavras palavras “”terror” e “terrorrista”, porque no inconsciente coletivo elas estão associadas a violências, torturas, mortes.

E foi assim que a palavra “terrorista” iniciou uma nova era. Ela serviu e vem servindo há mais de séculos para designar povos ou movimentos que se levantam contra Estados ou sistemas políticos que vampirizam corpos e mentes dos miseráveis.

E com essa palavra mágica, floresceram então as ditaduras no continente latino-americano, todas elas sob o manto protetor dos EUA.

parir daí, políticos que se opunham à dominação do Império carregavam nas costas o aposto “terrorista”. Do Brasil à Colômbia, da Argentina à Bolívia, do Uruguai ao Chile, os terroristas se espalhavam lutando em favor das liberdades.

Deu certo por muito tempo, mas o desespero do povo desvitalizou a palavra. Ela perdeu a força e migrou para outros continentes onde os povos começavam identificar os responsáveis por suas desumanas condições de vida.

A situação ficou tão séria que a ONU decidiu criar um grupo de estudos para classificar o que é e o que não é terrorismo. O grupo foi criado nos anos 90 mas, até hoje não avançou. Esse impasse só favorece os impérios que, controlando todos os meios de informação, rotulam todos aqueles que se opõem o poder dos novos colonialismo.

No meu dicionário pessoal e, não autorizado, “terrorista” é toda aquela pessoa ou grupo que luta pela soberania de seu país e pela liberdade do seu povo.

E a História está aí para me proteger.

OS INDIGNADOS

By , 20/02/2024 3:00 pm

Sei que é pedir muito, mas eu gostaria de ter visto a mesma indignação que os colunistas DORA KRAMER, VERA MAGALHÃES E MERVAL PEREIRA, GUGA CHAKRA e e outros do segundo escalão demonstraram contra a fala de Lula comparando os holocaustos contra os judeus e palestinos.

Repito, a palavra #Holocausto” não é reserva de mercado do povo judeu. De origem grega, a palavra holocausto, #Shoa, em hebraico, siginifica literalmente, “destruição, ruína, catástrofe”.

E o que é que está acontecendo agora na Palestina? Destruição total. Até mesmo a secular universidade foi bombardeada e restam escombros. Aqueles que tem escapado dos ataques diários de bombas não tem casa para morar porque foram destruídas pelos bombardeios do Estado de Israel.

E o que são os campos de refugiados dos palestinos? Uma versão moderna dos guetos impostos pelo Nazismo. E se espalham pelo Oriente Médio.

Só por um detalhe, Netanyahu, ao contrário de Hitler não vai conseguir exterminar seis milhões de palestinos. Simplesmente porque 5,9 milhões de palestinos estão nos guetos modernos, em condições precárias, com a ajuda da ONU.

Sim, o que está acontecendo hoje em Gaza é um holocausto. Doa a quem doer, essa é a palavra que na própria língua falada em Israel significa “destruição, ruína, catástrofe”.

E há exatos 138 dias, um povo inteiro vem sendo destruído, suas vidas, arruinadas e catástrofe soa suave para mais de um milhão de pessoas que estão passando fome porque nem a chamada ajuda humanitária consegue cruzar as fronteiras para lhes levar pão.

Portanto, eu realmente espero que o nível de hipocrisia dessa indignação seletiva se limite às suas conversinhas amigáveis de jornalistas no final do dia.

Lula não errou. Ele apenas apontou o dedo e disse que o rei está nu.

MATRIARCA ENTRE MARES E MONTANHAS

By , 12/02/2024 12:50 pm

Mamãe no gramado do Hotel Nacional em Brasília, 33 anos

Quando uso a palavra #matriarca, na maioria das vezes, estou me referindo à minha mãe. Hoje é seu aniversário. Ela faria 94 anos. Chegaria a 100, segundo médicos brasileiros e os de além mar. Morreu aos 92 por culpa de um vírus que se espalhou porque um governante com pulsão de morte, não queria vacina para o povo.

Mas hoje é aniversário de mamãe e eu quero celebrar a vida dessa mulher gloriosa, elegante, aristocrática e que tinha fome de saber. Devorava livros e gostava de farinha e carne de sol. E, acima de tudo, foi mãe que nunca terceirizou a educação dos filhos. Sempre esteve presente, mas não ia às reuniões de pais e professores. E concordava com ela. Quase tão chatas quanto reunião de condomínio.

Totalmente desafinada, foi ela quem me ensinou a cantar músicas de sua infância e também samba-canção, valsas, cirandas, tangos e até samba. Gostava de Elvis Presley e até sabia dançar twist. Ensinei mamãe a gostar e a dançar rock. Ela se divertia comigo. Às vezes me telefonava e quando eu perguntava se estava tudo bem ela dizia, “estou ligando só porque você me faz rir quando conversamos”.

Mamãe devorava livros e me levou para esse caminho de vício, sonhos e fantasias e saberes. Adorava dançar e, sempre se fantasiava no Carnaval.

Torcedora fanática do Flamengo, ela fechava a janela e a porta do seu quarto, ficava na escuridão, TV ligada. Na hora do gol ela berrava. Por isso se escondia tanto. Alucinava, xingava o juíz. Enfim…

Mas o que ela gostava mesmo era de viajar. Dos Andes aos Alpes, dona Terci também cruzou muitos mares, o Egeu, o Adriático, o Mediterrâneo, o Caribe, o Mancha, o gollfo do México e tantos portos e baías.

Mamãe era muitas. A minha é essa, a da mulher intelectualmente cultivada, modos refinados, militante e apaixonada pela vida.

Trouxe aqui fotos de mamãe pelo mundo. Só não encontrei uma em Budapest, onde estivemos no inverno de 91, em Londres, Edimburgh e em Verona, onde eu baixei o AI-5 para ela se debruçar na sacada de Julieta. E nós duas repetimos as falas de Shakespeare. Eu era o Romeu e ela estava morrendo de frio.

Não procurei porque são duas caixas com mais de cinco mil fotos da matriarca pelo planeta. Ela pretendia até mesmo fazer uma viagem espacial, mas eu controlava esse desvario porque era bem capaz que ela fosse escavar as crateras da lua.

Não duvidem.

FELIZ ANIVERSÁRIO, mãe!

Soledad Barret

By , 03/11/2009 1:45 pm

Soledad Barret

Soledad Barret
(06/01/1945 – 08/01/1973)

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