PARA CONCEIÇÃO PORQUE SEMPRE ESTAREMOS AQUI

By , 09/11/2024 1:40 pm

Ah, Conceição Freitas teu texto sobre o filme que nos fala de Eunice, das nossas lutas, dos sonhos destruídos é mais um primor. Mas isso não é nenhuma novidade. Afinal de contas, nós que te lemos temos absoluta certeza de que es capaz de transformar uma pedra sem glamour num diamante cobiçado.

Li e até reli teu texto sobre o quase sacrifício que é deixar nossa poltrona com mantinha e almofadas, biscoitinho e café quente, luminosidade adaptada aos nossos olhos e sentar em cadeiras enfileiradas com sons em alturas que incomodam nossos ouvidos e uma luminosidade não calculada para todos os olhos. Mesmo assim pratico ese exercício com uma certa frequência para não trair minha raízes de cinéfila.

Bom, hesitei e ainda hesito diante do filme que fala de Eunice. Ela foi minha amiga, minha hóspede dezenas de vezes quando chegava em Brasília ainda nos anos 70 não apenas pra buscar pistas do paradeiro do deputado Rubens Paiva mas, também, advogando em defesa dos direitos indígenas. Eunice foi, por muitos anos, advogada de várias causa quase perdidas de diferentes povos indígenas, desde os Kaiowá de Mato Grosso do Sul aos Macuxi de Roraima.

Terminado o dia, ela quase sempre chegava na minha casa no começo da noite, ainda com sua pequena valise de viagem, suficiente para passar uma noite em Brasília, tomava um banho rápido e nos sentávamos para conversar, para conspirarmos em favor do Brasil, sonhávamos com a liberdade, com o dierito de enterrrar nossos mortos. Geralmente as conversas eram na mesa da cozinha onde tomávamos um caldo quente ou apenas beliscávamos intermináveis fatias de queijo com pão.

Muitas vezes a madrugada surpreendia nossas conversas sempre intermináveis que em muitos momentos continuava na semana seguinte porque eram tempos que a luta quase não nos deixava dormir.

Doce, serena, fala tranquila de quem guarda a sabedoria da vida, Eunice era uma presença que deixava no ar um gosto de tenacidade. Nem sempre nos despedíamos porque ela acordava cedo e saia com sua valise. Para São Paulo ou para a peregrinação dos tribunais.

Esse ritual durou alguns anos. Pelo menos até a demarcação do território Yanomami. Depois não nos vimos nunca mais, mas nos acompanhávamos à distância. Nossos amigos eram nosso elo.

E, quando vi Walter Salles debruçado no projeto do filme, neu coração se aqueceu porque ele manteria viva não apenas a história de brava Eunice, mas nossa História de lutas, a história de dezenas de mulheres que ainda hoje procuram seus filhos, filhas, maridos e irmãos devorados pelas botas dos facínoras.

Mas, quando foi anunciado o nome da atriz que interpretaria Eunice, senti um mal-estar. Meu mal-estar sempre é representado por uma dor desconfortável no estômago que já até me levou a exames médicos.Queriam descobrir úlceras, câncer. Se me ouvissem, não me submeteriam a esses testes.

O mal estar foi provocado pelo oxímoro Eunice- Fernanda Torres. Fico imaginando que malabarismo fez essa atriz para interpretar o suave olhar de Eunice. Para mover os braços com a tranquilidade e força de Eunice e, sobretudo, para mostrar a humildade corajosa de Eunice Paiva.

Não consigo dissociar a atriz fernanda Torres daquela desprezível fuga do centro de vacinação que aplicava doses de vacina contra o Covid. Ela saíu correndo pela rua porque a vacina não era “gourmet”. Enquanto milhares de brasileiros sonhavam em receber a agulhada da salvação e faziam filas gigantescas na luta pela vida contra um vírus que matou milhoes mundo afora, a arrogância da mulher mimada e snob não aceitou a vacina disponível porque não era a Astra-Zeneca. Aquele episódio marcou eus sentimentos em relação àaessa atriz. Se antes era neutro, passou a ser de desprezo.

Então, não tenho certeza se quero assistir Eunice interpretada por seu oxímoro.

Não me importa que receba prêmios, que seja laureado com a mais kitsch de todas as estatuetas que é o Oscar” e que atraia milhões de espectadores.

Por enquanto – e nada impede que eu mude de opinião – fico com a imagem da minha querida amiga, sentada na cozinha de um apartamento da 304 sul, tomando um caldo de milho com frango ou um caldo verde, falando de nossas esperanças por um Brasil grande, soberano e sem botas manchadas com o sabgue da nossa resistência.

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