BRUXA SIM, MAS DE CHANEL 5
Uma vez por ano eu, a #Bruxa e minhas amigas #Sorcière a #Witch nos encontramos para um fim de tarde. E, nossos trajes tem a mesma cor. Seja qual for modelo escolhido, vamos de preto, nos maquiamos e nos perfumamos. Acontece que pelos códigos de uso de perfume da senhora minha mãe, depois das cinco só Chanel. E Chanel 5. Nada de perrfumimho com cheiro de adolescente.
E, igual todos os anos, vamos sempre ao mesmo bar. Paredes pintadas de preto e luzes em sépia. Assim, podemos ficar horas repousando nossas retinas porque a claridade sempre nos incomoda.
Quando o elegante garçon nos entregou o cardápio, gastamos mais de duas hora para decidir. Lá fora já estava escurecendo.Tudo culpa da Sorcière que sempre levanta polêmicas. Dessa vez ela nos perguntou que comidas as bruxas gostam. Antes que a Witch se manifestasse, Sorcière foi logo avisando, “não vale nenhum tipo de sanduíche”. Resolvi mediar. Com uma calma que não é minha e sem dizer que apoiava os sanduíches fui logo ampliando o menu, “bruxas comem de tudo, carne, peixe, mexilhões, carangueijos, tomates fritos, recheados, crus, o que que for comestível”. Animada, Witch disse, “é, eu até conheço bruxa que é vegetariana”. Quis rir, mas Sorcière de olhos muito abertos, reagiu “Witch minha amiga, bruxas são iguais a todo mundo, só que são bruxas. Eu até conheço bruxas más. Se há bruxas más, pode haver bruxas veganas, vegetarianas, onívoras, carnívoras”.
Sorcière estava terrível hoje. Então foi minha vez de provocá-la; “E que bebidas as bruxas bebem?”. Ela prontamente respondeu. “em primeiro lugar, champagne. Mas podem até beber coca-cola, suco de cupuaçu, de murici”. Witch que nem estava nos seus dias flamboyants emendou, “e chocolate quente”. Pedimos champagne, como é do nosso hábito. Elas comeram pratos semelhantes, pasta com diferentes acompanhamentos. Mergulhei num filet sangrando e passamos a filosofar.
O comportamento de Witch me surpreendia. Ela estava com um olhar distante, quase triste e, de repente, eles se encheram de lágrimas. Sem disfarçar, passou a falar mais rápido que o habitual e pediu outra champagne. No brinde, desabafou, “e pensar que hoje festejamos o dia das bruxas quando, num passado nem tão distante, na minha terra, em Salém, elas foram queimadas vivas porque eram bruxas..
Sorcière, com aquele espírito competiitivo reagiu, “ora no meu continente, jogamos milhares de bruxas na fogueira”,
‘Meninas!”, pedi com voz autoritária, se é para disputar, quero lhes dizer que na minha terra, na minha Brasília, em pleno século XXI, só esse ano mataram mais de 400 mulheres. E nem precisaram jogar na fogueira. Nem todas eram bruxas.
O crime, continuei , tem até nome, chama-se “feminicídio”. E transformou-se em epidemia. Matam com balas, facas, pauladas, asfixia…
Choramos as três juntas. Enxugamos as lágrimas e cantamos “viver em acampamento onde o fogo jamais cessa, sentimo-nos unidas, pela nossa promessa”.
Então nos abraçamos e marcamos o próximo encontro. Paris ou Salém?
Sabe-se lá.