A ESTRÉIA E MEU IRMÃO SONSONHO

By , 27/05/2025 9:13 am

Há exatos 54 anos, neste 26 de maio, foi publicada minha primeira reportagem na tal “grande imprensa”. A viagem, minha primeira ao Xingu, tinha acontecido dias antes. A revista Veja divulgou a matéria sob o título “índios, Tratores e Bibliotecas”, onde relato a inauguração de uma estrada até hoje inacabada, a BR-080, que deveria ligar Brasília a Manaus. Ela serviu apenas para macular o Parque do Xingu até então inviolável e onde vivem 16 nações indígenas. Mas a estrada foi aberta principalmente para beneficiar 15 fazendas instaladas nas redondezas e entregues aos amigos da ditadura. Ali começou a grande devastação da Amazônia. Exatamente ali, na fronteira de dois biomas, onde a savana abre alas para aquela que foi a maior floresta tropical do planeta, nossa Amazônia.

Há exatos 54 anos, neste 26 de maio, meu irmão Sonsonho, ou Neiva, passou seu aniversário de 22 anos nas mãos dos torturadores da temível Oban. Ele era um dos guerrilheiros que lutou contra a ditadura militar que prendia, sequestrava, torturava, matava e desaparecia com os combatentes na luta pela Democracia. E meu irmão fez oposição armada na “Ala Vermelha do PCdoB” . Meu irmão foi um guerrilheiro e isso me orgulha.

Há 54 anos, nossa família buscava por todos os meios saber onde estava nosso irmão. Só em junho tivemos as primeiras notícias. Nosso único irmão homem estava vivo e fora levado para o Presídio Tiradentes.

Hoje meu irmãozinho querido, aquela criança de mente brilhante que maravilhava toda a vizinhança porque antes de saber ler fazia cálculos complicados e a mente era explorada pelos vizinhos adultos porque eles somava, multiplicava, dividia sem ter papel na mão estaria completando 76 anos e tenho dificuldades de vê-lo nessa idade.

Mano, será que te tornarias um velho rabugento? Mano, será que já terias perdido tua capacidade de sedução? Será que continuarias o grande estrategista político que sempre fostes? Será que continuarias lutando para manter a esquerda leal aos seus ideais?

Ah, mano, não consegui dizer nada há dois dias quando se completaram dez anos da tua morte. Tudo porque tu bem sabes que já cheguei à velhice e tenho poupado os momentos que me sufocam de tristezas e de lembranças que prefiro manter adormecidas. A lembrança de tua morte é uma dessas.

Prefiro pensar como seria o meu irmãozinho velho. E tenho certeza que estarias tecendo alianças que não fossem espúrias para eleger um candidato de esquerda.

Ando por aqui estudando o Populismo, mano. E o assunto tem me preocupado porque não consigo encontrar nenhum líder populista que tenha construído herdeiros. E eles também envelhecem, se enfraquecem e ficamos tentando lhes dar energia, como se fosse possível. Tu ias gostar muito desses livros que ando estudando.

Tu sempre davas um jeito de pegar meus livros e para não interromper minha leitura tu devoravas em menos de 48 horas. Sempre me impressionou tua capacidade de ler. Lias com uma rapidez supersônica e quando discutiamos, eu percebia que tu tinhas entendido mais do que eu que estudava cada um deles, sublinhando, anotando.

Mano, já passa da meia noite aqui nessa terra estranha. Comecei a te escrever sentada no jardim que plantei pra ti. Sim, no dia seguinte da tua morte sai desvairada, comprei árvores ainda pequenas e que hoje já nos concedem sombras, flores variadas, arbustos. Foi a única maneira de me sentir perto de ti. Com enxada, abri enormes buracos. Plantei palmeiras, bambus e cultivei as sementes de carvalho. Esse carvalho está bem alto e é onde me refugio quando leio.

Mano, eu te telefonaria hoje. Aqueles telefonemas-relâmpago, só pra te dizer feliz aniversário e perguntar sobre um ou outro assunto político. Agora só me resta te escrever.

Um beijo, meu irmãozinho.

EUA X VATICANO

By , 08/05/2025 2:31 pm

Os Estados Unidos nunca se ligou ou se interessou ppor conclaves, sínodos ou similares. Não é um país católico e eu sempre tenho que me informar quando vai ser Carnaval ou Semana Santa porque depois de mais de duas décadas, você termina se alienando de nossas manifestações culturais. São João, não. São festa na mesma época não fica nesse #vaievem carnavalesco.

Portanto, foi uma surpresa enorme ver o interesse de algumas autoridades do Governo com as eleições do novo Papa.

Que diabo é isso, pensei.

E conhecendo um pouco da vida e história dessas autoridades, me dei conta de que é a primeira vez na História do país que há uma quantidade enorme de católicos nas redndezas de Trump, a começar pelo vice-presidente JP Vance, Marco Rubio, secretário de Estado (o terceiro homem mais importante da hierarquia doGoverno), John Ratcliffe, diretor da CIA e outros.

Então, o interesse pelo Vaticano estava explicado. E, a morte de Francisco acendeu uma luzinha nos olhos opacos de Trump. A repercussão da morte – até a China comentou – levou a Trump a conceder uns minutos para entender o poder desarmado de um Papa.

Trump, diferente de Stalin percebeu que ser Papa, mesmo sem controlar o mundo com tantas armas de alto potência destrutiva e uma moeda de pressão, é mais negócio do que ser presidente de um país por mais poderoso que seja. Simplesmente porque seu poder só se encerra na morte. E nos ofereceu uma cena que Freud adoraria. Um Trump paramentado com as vestes papais. E a imagem gerada por imteligência artifical correu o mundo. Coitado! Nem sacristão conseguiu ser.

A partir daí, o presidente dos EUA passou a dar pitaco na sucessão da Igreja e até apontar seus cardeais preferidos para o trono de São Pedro. Criou-se uma frente dentro do Governo em defesa dos nomes dos cardeais Michael Dolan, arcebispo de NY, conservador e de posições duvidosas frente às denúncias de abusos sexuais da Igreja ou, então o cardeal Leo Burke, que já foi arcebispo em New York. Tanto um quanto o outro, conservadores extremados, nomeados cardeais pelo ultra-direitista Papa Bento XVI.

Passei esses dias um tanto angustiada porque há alguns anos, Steve Bannon, um fascista explícito que tfez a primeira campanha de Trump e trabalhou na Casa Branca, chegou a dizer que trabalharia pela renúncia de Francisco e que iria se esforçar para eleger seu sucessor.

Cardeais são seres humanos. Passíveis de todas as virtudes e vícios que frequentam a alma humana. Portanto, corruptíveis, invejosos, bondosos, generosos…

E eis que, um cardeal novo ainda – só vai fazer 70 anos em setembro – profundo conhecedor das ruas de Chicago e dos dramas de uma América Latina miserável, amigo de Francisco, o Papa Inesquecível, surge como favorito. E, em menos de 48 horas é escolhido Papa.

Se foi obra do Espírito Santo, não sei, mas respirei aliviada com o resultado.

Acho que vou a Roma no outono. Vamos, Cidinha?

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