LA VIE EN ROSE

By , 20/07/2023 6:29 pm

A VIE EN ROSE.

“…Je vois la vie en rose…”

Gagocha Aires Moreira, minha irmã que foi caçula alguns anos, não usa a cor rosa nem sob tortura. Chama o Corpo de Bombeiros, o Japonês da Federal, é capaz de rezar três “Padre-Nosso” e ficar de cama por meses com uma urticária de origem intergaláctica.

Exageros à parte, ela realmente detesta essa cor. E eu tenho certeza, na minha Psicanálise de botequim, de que é trauma de infância. Quando éramos crianças, usávamos vestidos do mesmo modelo. O de Gagocha sempre cor-de-rosa e o meu sempre azul. Mas não cresci com nenhum problema com a cor azul. Gosto do azul-royal. Azul claro,deixo para minha comadre Ana Lange.

De qualquer forma, não me lembro de ter comprado roupinhas cor-de-rosa para minhas filhas. Nos anos 70, quando elas nasceram, essa cor era associada a mulherzinhas nhem-nhem-nhem e eu fugia da dicotomia azul para meninos e rosa para as meninas, bem antes de uma tal de Damares se encontrar com Jesus na goiabeira.

Pois bem a cor rosa chega ao seu momento de apogeu e glória. O fenômeno se deve a um filme que conta a história de uma boneca chamada “Barbie”. É o maior fenômeno mundial de publicidade. E digo mundial porque invadiu também países da África e Ásia, iuncluindo o mundo árabe.

O filme, com direção de Greta Gerwig, estreou hoje no Brasil e amanhã será a vez dos Estados Unidos celebrar a cor preferida de Mamie Eisenhower, primeira-dama dos EUA, casada com Dwight, e chamadode “Ike” pelos amigos e pela imprensa que se achava íntima do presidente. Foi ele quem deu a largada para a Guerra do Vietnam. Madame estava de rosa.

Mamie, a “first lady”, por falta do que fazer, mandou derrubar todo o banheiro da suite do casal na Casa Branca, para mudar a cor das paredes. Escolheu a cor rosa, para combinar com suas pantufas, negligées e outras peças mais íntimas. E então, as revistas femininas por absoluta falta de assuntos palpitantes começaram a espalhar o boato que a cor rosa era para meninas. Não demorou muito para que uma mulher mais esperta criasse a boneca do mundo cor-de-rosa, Barbara Millicent Roberts ou, simplesmente, Barbie. Felizmente, a boneca não copiou o padrão de beleza da então primeira-dama, mulher de Ike, que nem tinha peitos siliconados ou cintura de pilão.

Sorte da Casa Branca que a sucessora de Mamie foi Jacqueline Kennedy, mulher elegante, de gosto mais apurado tanto para decoração de banheiros quanto para seus chapéus e roupas.

As “Barbies” se multiplicaram. Tem até Barbie usando véu e Barbie negra, que faria Mamie Eisenhower ficar roxa de irritação. Madame era racista.

Quero dizer que, prevendo a futura explosão de demanda da cor com consequente escassez do rosa no mercado, há alguns anos comecei a estocar seus tons e vou passar tranquila pela “crise do rosa”. Tenho saia, calça comprida, chapéu, bolsa em diferentes nuances de rosa. É que sou previnida.

Mas fiquem tranquilos. Nunca vou usar todas as peças ao mesmo tempo.

Ainda não vi o filme, mas não vou perder esse fenômeno lançado exatamente nesse ano em que acabou uma epidemia enquanto o mundo começa a viver a sucessão de desastres climáticos que parecem indicar o fim planeta, com todos vestindo cor-de-rosa.

*Gagocha, pode vir me visitar sem problema. Eu guardo todas as peças cor-de-rosa no fundo do baú. Não quero ser responsável por um possível choque cromático.

Pode ser uma imagem de roupa de dormir

COM TODOS OS DEDOS NAS FERIDAS

By , 12/07/2023 12:04 am

COM TODOS OS DEDOS NAS FERIDAS

Conheci o pensador TARIK ALI num dos encontros do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, antes de o evento se tornar um convescote de narcisismos políticos de uma esquerda que a cada dia mais se assemelhava ao adjetivo #festiva. Quis entrevistá-lo porque acabara de ler “Confronto de Fundamentalismos”. Não foi possível. Ele estava cercado de perguntas que não me interessava ouvir e preferi me afastar. Eu queria mesmo era uma conversa consistente. Mas não havia nem tempo, nem hora para meu devaneio. E me restringi a lhe pedir autógrafo no meu exemplar do “Confronto…

Ainda me faltavam dois de seus livros para dizer que já li sua obra completa, “”Piratas do Caribe” e “Winston Churchil”, onde ele descreve as barabaridades praticadas pelo Colonialismo inglês em todos os continentes e cometidas pelo ex-premier que terminou se transformando em herói da liberdade. Terminei agora mesmo de ler os “Piratas”.

E que pancada!

Editado em 2004, pela “Record”, ele não deixa pedra sobre pedra de governantes que alegremente babam de prazer diante do “Consenso de Wasghington”. Preciso, mordaz, ele chega a ser fascinante na sua crítica.

Le hors d’oeuvre começa na página 36.

Copiei aqui para vocês petiscarem.

Qualquer semelhança com fatos reais, não é mera coincidência

“Os séculos dourados estão pela frente. Que os guerreiros do FMI/Banco Mundial se entusiasmassem por essa visão era uma coisa; mas o espírito dos tempos afetou profundamente muitos ex-opositores ao domínio do capital. Vencidos por uma combinação de fadiga e medo do desconhecido, começaram a pintar suas novas vitórias com gloriosas cores primárias, em uma linguagem mais extravagante que a usada 150 anos atrás por Gladstone, que, de modo depreciativo, descreveu os sucessos imperiais como o “intoxicador crescimento e aumento de toda nossa riqueza e todo nosso poder”

Logo na página seguinte, a 37, da edição de 2004, ele continua chicoteando.

“A desilusão pós-1989, o cinismo e uma amargurada visão do passado afetaram tosos os continentes, sem exceção. E aqueles que agora adotam a visão dos vencedores vem de todas as classes sociais e origens políticas: socialdemocratas de esquerda, eurocomunistas, ex-trotskistas, imaculados e puros, sectários em sua plenitude, agora transferindo o mesmo vício para servir velhas causas, maoístas anteriormente favoráveis a distúrbios de rua, teóricos marxistas, dedicados antiimperialistas que, em seu entusiasmo, defenderam os militares etíopes e a desastrosa intervenção soviética no Afeganistão, ex-anarquistas – representantes de todas as espécies podiam ser encontradosa serviço de praticamente todo governo neoliberal – na Europa, na América dos Norte, na África do Sul, no Brasil, na China, na Austrália – ou, onde isso não era possível, aplaudindo ferozmente do lado de fora. Eles ainda acreditavam na luta de classes, mas haviam mudado de lado”.

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