LA VIE EN ROSE
A VIE EN ROSE.
“…Je vois la vie en rose…”
Gagocha Aires Moreira, minha irmã que foi caçula alguns anos, não usa a cor rosa nem sob tortura. Chama o Corpo de Bombeiros, o Japonês da Federal, é capaz de rezar três “Padre-Nosso” e ficar de cama por meses com uma urticária de origem intergaláctica.
Exageros à parte, ela realmente detesta essa cor. E eu tenho certeza, na minha Psicanálise de botequim, de que é trauma de infância. Quando éramos crianças, usávamos vestidos do mesmo modelo. O de Gagocha sempre cor-de-rosa e o meu sempre azul. Mas não cresci com nenhum problema com a cor azul. Gosto do azul-royal. Azul claro,deixo para minha comadre Ana Lange.
De qualquer forma, não me lembro de ter comprado roupinhas cor-de-rosa para minhas filhas. Nos anos 70, quando elas nasceram, essa cor era associada a mulherzinhas nhem-nhem-nhem e eu fugia da dicotomia azul para meninos e rosa para as meninas, bem antes de uma tal de Damares se encontrar com Jesus na goiabeira.
Pois bem a cor rosa chega ao seu momento de apogeu e glória. O fenômeno se deve a um filme que conta a história de uma boneca chamada “Barbie”. É o maior fenômeno mundial de publicidade. E digo mundial porque invadiu também países da África e Ásia, iuncluindo o mundo árabe.
O filme, com direção de Greta Gerwig, estreou hoje no Brasil e amanhã será a vez dos Estados Unidos celebrar a cor preferida de Mamie Eisenhower, primeira-dama dos EUA, casada com Dwight, e chamadode “Ike” pelos amigos e pela imprensa que se achava íntima do presidente. Foi ele quem deu a largada para a Guerra do Vietnam. Madame estava de rosa.
Mamie, a “first lady”, por falta do que fazer, mandou derrubar todo o banheiro da suite do casal na Casa Branca, para mudar a cor das paredes. Escolheu a cor rosa, para combinar com suas pantufas, negligées e outras peças mais íntimas. E então, as revistas femininas por absoluta falta de assuntos palpitantes começaram a espalhar o boato que a cor rosa era para meninas. Não demorou muito para que uma mulher mais esperta criasse a boneca do mundo cor-de-rosa, Barbara Millicent Roberts ou, simplesmente, Barbie. Felizmente, a boneca não copiou o padrão de beleza da então primeira-dama, mulher de Ike, que nem tinha peitos siliconados ou cintura de pilão.
Sorte da Casa Branca que a sucessora de Mamie foi Jacqueline Kennedy, mulher elegante, de gosto mais apurado tanto para decoração de banheiros quanto para seus chapéus e roupas.
As “Barbies” se multiplicaram. Tem até Barbie usando véu e Barbie negra, que faria Mamie Eisenhower ficar roxa de irritação. Madame era racista.
Quero dizer que, prevendo a futura explosão de demanda da cor com consequente escassez do rosa no mercado, há alguns anos comecei a estocar seus tons e vou passar tranquila pela “crise do rosa”. Tenho saia, calça comprida, chapéu, bolsa em diferentes nuances de rosa. É que sou previnida.
Mas fiquem tranquilos. Nunca vou usar todas as peças ao mesmo tempo.
Ainda não vi o filme, mas não vou perder esse fenômeno lançado exatamente nesse ano em que acabou uma epidemia enquanto o mundo começa a viver a sucessão de desastres climáticos que parecem indicar o fim planeta, com todos vestindo cor-de-rosa.
*Gagocha, pode vir me visitar sem problema. Eu guardo todas as peças cor-de-rosa no fundo do baú. Não quero ser responsável por um possível choque cromático.
