MAMÃE EM VENEZA
Budapest sempre foi uma cidade que me atraíu. O fato de saber que em 1900, aquela cidade vibrante abrigava 19 jornais diários, além de ser a terra de tantos escritores que me fascinam, são motivos suficientes.
Estava com mamãe em Paris e decidimos ir a Viena, que fica a três horas de Budapest. Além disso, eu tinha uma “tarefa” política. Não falei da tarefa para ela. E nem podia. Era um tanto arriscada. Insisti muito para irmos à capital daquele país cuja língua é alófila e, segundo Chico Buarque, “até o Diabo respeita”. Mamãe recusava. Até que decidiu negociar e disse, “só vou a Budapest se você aceitar ir comigo a Veneza”. Era minha vez de recusar. Nunca tive atração por Veneza porque sempre tive certeza de que era um cidade cenográfrica criada pelos estúdios de Hollywwod. Mas, eu queria e precisava ir a Budapest.
Aceitei.
O Muro de Berlim havia caído pouco tempo antes e os países que integravam a União Sovética viviam um certo tumulto. Na fronteira, fomos paradas. Não tínhamos visto. Como assim, me dão todas as informações para chegar, me dão os microfilmes e não me avisam do visto.
Entrei em pânico. Morta de pânico não por causa do pobre do funcionário da fronteira com um casaco que não segurava aquela temperatura. Meu pânico era mamãe descobrir o quê eu estava aprontando. Depois de várias negociações das quais participou o embaixador do Brasil, fomos liberadas. Entramos naquele país que exerce em mim tanto fascínio.
Hotel Géllert e a única língua que eles falam além de húngaro é alemão. Ainda bem que sei alguma coisa de alemão e de fome não ia morrer. Cumpri a tarefa e só contei pra mamãe quando ela fez 80 anos. Ela só fez rir.
Mamãe amou Budapest. Passamos o tempo andando a pé por Pest, e o Danúbio, cinza.
Enfim, voltamos e eu assim um tanto reticente porque ia chegar em Veneza. Não estava psicologicamente prepara para uma cidade cenográfica.
Mal descemos na estação meu coração disparou. Fiquei tonta. Foi como se o planeta tivesse parado rotação e translação. Mamãe foi descansar e eu andei pela cidade sozinha, sem me perder, por mais de cinco horas. Não era cenográfica. Era a cidade onde os anjos dormem e a única rima que encontrei para descrever foi “Beleza”.
No dia seguinte, muito, muito frio, fomos andando para encontrar um lugar simpático para almoçar. Mamãe parou em frente ao mar Adriático. Havia gôndolas ao fundo e eu disse, “pare, minha senhora. Eu quero essa foto”
E aí está mamãe. Linda