MATRIARCA ENTRE MARES E MONTANHAS

By , 12/02/2024 12:50 pm

Mamãe no gramado do Hotel Nacional em Brasília, 33 anos

Quando uso a palavra #matriarca, na maioria das vezes, estou me referindo à minha mãe. Hoje é seu aniversário. Ela faria 94 anos. Chegaria a 100, segundo médicos brasileiros e os de além mar. Morreu aos 92 por culpa de um vírus que se espalhou porque um governante com pulsão de morte, não queria vacina para o povo.

Mas hoje é aniversário de mamãe e eu quero celebrar a vida dessa mulher gloriosa, elegante, aristocrática e que tinha fome de saber. Devorava livros e gostava de farinha e carne de sol. E, acima de tudo, foi mãe que nunca terceirizou a educação dos filhos. Sempre esteve presente, mas não ia às reuniões de pais e professores. E concordava com ela. Quase tão chatas quanto reunião de condomínio.

Totalmente desafinada, foi ela quem me ensinou a cantar músicas de sua infância e também samba-canção, valsas, cirandas, tangos e até samba. Gostava de Elvis Presley e até sabia dançar twist. Ensinei mamãe a gostar e a dançar rock. Ela se divertia comigo. Às vezes me telefonava e quando eu perguntava se estava tudo bem ela dizia, “estou ligando só porque você me faz rir quando conversamos”.

Mamãe devorava livros e me levou para esse caminho de vício, sonhos e fantasias e saberes. Adorava dançar e, sempre se fantasiava no Carnaval.

Torcedora fanática do Flamengo, ela fechava a janela e a porta do seu quarto, ficava na escuridão, TV ligada. Na hora do gol ela berrava. Por isso se escondia tanto. Alucinava, xingava o juíz. Enfim…

Mas o que ela gostava mesmo era de viajar. Dos Andes aos Alpes, dona Terci também cruzou muitos mares, o Egeu, o Adriático, o Mediterrâneo, o Caribe, o Mancha, o gollfo do México e tantos portos e baías.

Mamãe era muitas. A minha é essa, a da mulher intelectualmente cultivada, modos refinados, militante e apaixonada pela vida.

Trouxe aqui fotos de mamãe pelo mundo. Só não encontrei uma em Budapest, onde estivemos no inverno de 91, em Londres, Edimburgh e em Verona, onde eu baixei o AI-5 para ela se debruçar na sacada de Julieta. E nós duas repetimos as falas de Shakespeare. Eu era o Romeu e ela estava morrendo de frio.

Não procurei porque são duas caixas com mais de cinco mil fotos da matriarca pelo planeta. Ela pretendia até mesmo fazer uma viagem espacial, mas eu controlava esse desvario porque era bem capaz que ela fosse escavar as crateras da lua.

Não duvidem.

FELIZ ANIVERSÁRIO, mãe!

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