MAVUTSINI NO COMANDO
É assim. Eles fazem estudos de impacto ambiental sentados no sofá e escritos a lápis. Depois apagam o que parece incômodo aos governantes e, começam a tocar a obra. Polêmicas, discuros revoltados, patati-patatá, destróem patrimônios naturais, patati-patatá.
Inauguram a obra. Enchem o peito de orgulho patriótico. Discursos, patati, patatá. E lá se vai a água jorrando para gerar energia. Tudo bem, tudo bonito na festa e a Natureza morta olhando os convidados com tristeza, desespero e desprezo.
Inauguraram Belo Monte, destruiram um rio inteiro, exatamente o Xingu, o “rio da cultura nacional,” segundo o antropólogo Eduardo #Viveiros de Castro, para quem tiro o chapéu em sinal de respeito ao seu conhecimento.
A energia começou a ser gerada.
Embora vulgares nos seus sonhos e realizações, sentiram-se deuses e sairam anunciando “Faça-se Luz” e o coro, “E a Luz se fez”.
A mata observando calada diante daquele erro estúpido, os ribeirinhos sem peixe, os índios traumatizados E o patrimônio natural da humanidade, a Volta Grande do Xingu, uma foto na parede.
Mas eis que os Diabos – todos eles. Não faltou nem Lúcifer e nem Kanaimé -, sempre alertas, perceberam o erro. Perceberam, mas se calaram.
Toda aquela pomposa construção, digna dos melhores momentos de uma ditadura que continua à espreita, cercada de polêmicas e drenando milhões de reais, dólares ou euros, lá sei eu, para algumas contas bancárias selecionadas, trazia o velho e absurdo erro. Erro que sempre cerca as construções de hidrelétricas no Brasil, de Itaipu a Balbina, passando por Samuel e Tucuruí e desembocando em Belo Monte são assim, uma réplica dos cenários de Potemkin. Não às margens do Dnieper, cercado pelo gelo, mas às margens da gloriosa floresta amazônica, na beira do Xingu.
Sim, Balbina, em Roraima; Samuel, em Rondônia; Itaipu, no Paraná; Tucuruí, no Pará e Belo Monte, também no Pará, são verdadeiros cenários criados pelo príncipe russo Alexandrovitch Potemkim para agradar sua amante, Katrina II, esposa do czar Pyotr III*.
Atrás daquela pujança construída sobre o povo em escombros, o nada. Com todo aquele volume de água, qual a quantidade de linhas de extensão, vararam a floresta?
E todas essas mal cheirosas hidrelétricas sofrem do mesmo mal. Escassez dos cabos de extensão. Claro. Ninguém inaugura cabos no meio da mata.
O resultado disso são os frequentes apagões que causam prejuízos ao povo, ao comércio, à indústria e aos afagos dos egos de todos os governos.
Não por coinidência, “a rara falha operacional” nas palavras do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, aconteceu numa subestação ligada a Belo Monte.
E a Natureza, que nunca reclama, mas se vinga, às gargalhadas, esperou o momento certo de agir. Dessa vêz, ela nem precisou mexer seus olhos cobertos de folhas. #Mavutsini, o deus maior dos povos do Alto Xingu estava a postos e com sua ira divina. Causou a falha – ainda inexplicável, apesar das declaraçõ oficiais – para vingar sua amiga Natureza. Deixou cidades de 25 estados, além do Distrito Federal, sem luz. Só poupou Roraima que naquela noite estava traumatizada com a cassação do mandato de um reles governador chamado Denarium.
É preciso estar atento e forte, diria Gal Costa. Muito cuidado, pessoal, os deuses de todos os povos são escoteiros. Sempre alertas.
* Adoro intrigas da realeza. E , dessa vez, a culpa é da mãe. A matriarca lia muito, mas antes dos 40, se dedicou aos romances das alcovas reais. Lia e me contava uma por uma das fofocas que sempre cercam as cortes.
