Sei que é pedir muito, mas eu gostaria de ter visto a mesma indignação que os colunistas DORA KRAMER, VERA MAGALHÃES E MERVAL PEREIRA, GUGA CHAKRA e e outros do segundo escalão demonstraram contra a fala de Lula comparando os holocaustos contra os judeus e palestinos.
Repito, a palavra #Holocausto” não é reserva de mercado do povo judeu. De origem grega, a palavra holocausto, #Shoa, em hebraico, siginifica literalmente, “destruição, ruína, catástrofe”.
E o que é que está acontecendo agora na Palestina? Destruição total. Até mesmo a secular universidade foi bombardeada e restam escombros. Aqueles que tem escapado dos ataques diários de bombas não tem casa para morar porque foram destruídas pelos bombardeios do Estado de Israel.
E o que são os campos de refugiados dos palestinos? Uma versão moderna dos guetos impostos pelo Nazismo. E se espalham pelo Oriente Médio.
Só por um detalhe, Netanyahu, ao contrário de Hitler não vai conseguir exterminar seis milhões de palestinos. Simplesmente porque 5,9 milhões de palestinos estão nos guetos modernos, em condições precárias, com a ajuda da ONU.
Sim, o que está acontecendo hoje em Gaza é um holocausto. Doa a quem doer, essa é a palavra que na própria língua falada em Israel significa “destruição, ruína, catástrofe”.
E há exatos 138 dias, um povo inteiro vem sendo destruído, suas vidas, arruinadas e catástrofe soa suave para mais de um milhão de pessoas que estão passando fome porque nem a chamada ajuda humanitária consegue cruzar as fronteiras para lhes levar pão.
Portanto, eu realmente espero que o nível de hipocrisia dessa indignação seletiva se limite às suas conversinhas amigáveis de jornalistas no final do dia.
Lula não errou. Ele apenas apontou o dedo e disse que o rei está nu.
Era como se Rosa, a mãe de todos os ventos tivesse reunido toda sua família. Siroco, Alísios, Minuano e até o mitológico Zéfiro estavam ali nos meus hectares de felicidade.
E agora, lá fora, meu jardim brilha com a luz do sol que hoje se abriu, depois de 15 horas sob a ameaça de um dos mais fascinantes fenômenos da Natureza, o furacão. Pode ser mortal, deixar rastros de destruiçãp, mas sua força fascina.
Ontem quando ele começou a se espalhar fui ao jardim para abraçar o vento. E fiquei de braços abertos por muito tempo até começar a chuva que nem foi tão impressionante. Quando abraço o vento, me sinto absoluta.
Mas, no meio de toda essa excitação diante do poder desse fenômeno, paralisei. Vivi momentos de angústia com o desespero de um beija-flor. Ele estava exausto de voar contra a ventania. Procurava um lugar para se abrigar. Abri a porta do jardim de inverno. Fiquei segurando a porta. Ele não entendeu o convite. Voava entre a parede e um galho do carvalho que não oferecia a mínima proteção. Eu queria pegá-lo mas sabia que ele se rebelaria com meu gesto. De repente ele encontrou. Era o entrocamento de dois galhos. Ele cabia direitinho e se aninhou como se tivesse voltado para um útero.
Relaxei e voltei para abraçar o vento novamente quando uma folha seca tentava desesperadamente se manter no chão, sem voos, só se manter no chão para ser arrastada porque ela sabe que sua tarefa a partir de agora é se juntar às outras folhas secas e criar um manto para proteger o chão contra o frio do inverno. E a folha que já havia perdido um pedaço, continuava sua luta até que, quanta sorte, encontrou folhas verdes do gramado do jardim e criou seu escudo porque estava presa entre entre elas.
A chuva forte continuava, os ventos permaneciam impiedosos chIcoteando os bambus, os carvalhos, os ipês.
E agora tudo voltou ao lugar como se apenas uma banda tivesse passado cantando coisas de amor.
Será que meus coleguinhas jornalistas se esqueceram que além do governador Ronaldo Caiado havia uma outra importantíssima figura do mais alto e incontestável poder da Repúblicano no iate dos contraventores, dois dos quais, foragidos. Além de GUSTTAVO DOIS TÊS, dois dos seus amiguinhos com prisão decretada e fugidos do Brasil douravam-se ao sol do verão grego.
Vocês se lembram em plena crise do bloqueio contra as empresas de Musk no Brasil? Lembram-se que NUNO MARQUES votou com ALEXANDRE DE MORAES e, para a votação do plenário foi escolhido relator da matéria?
Vocês se lembram que ele viajou para a Europa em pleno processo. Mais especificamente para a Grécia e que na Grécia foi para Mikonos se encontrar com seu amiguinho DOIS TES, que por sua vez dera guarida para dois foragidos no própio iate?
Vocês se lembram que o presidente do STF, ministro Barroso, passou toalhinhas quentes no passeio de NUNO MARQUES dIdizendo que ele foi conhecer “aspectos jurídicos de interesse” em Roma?
E como nós, massa ignara sabemos, Roma fica na fronteira de Mikonos, ali onde o Egeu faz a curva e sonha ser Mediterrâneo.
Hora de especular porque um ministro da mais alta corte do país interrompe o trabalho de relatória de um processo vital para ir a Roma (Roma?) e encontrar amiguinhos num iate.
Quem pagou a viagem? Nós ou os contraventores?
Qual exatamente o assunto inadiável para um ministro-relator embarca para Roma/Mikonos exatamente no fim de semana da festa dos contraventores?
O quê e com quem NUNO MARQUES conversou nessa festa?
Foi dar “assessoria jurídíca” gratuita ou Midas entrou na jogada?
Acho que nós, povo brasileiro precisamos dos devidos esclarecimentios sobre a viagem. Afinal de contas, o salários, as mordomias e os caprichos dessas autoridades são pagos por nós.
Nem todo poderoso arsenal bélico determina a vitória de um país numa guerra. Porque uma guerra para ser vitoriosa tem necessidade, antes de tudo, da vitória política. Caso contrário, serão apenas amontoados de mortos chorados e venerados.
Se apenas o arsenal contasse para a vitória, o Vietname, com um milhão de mortos teria sido derrotado pelos Estados Unidos, que perdeu 56 mil jovens, naquela guerra preparada por John Kennedy, que morreu em 1963, continuada ferozmente por seu sucessor, Lyndon Johnsohn e que só no governo de Richard Nixon, no começo dos anos 70, viu o tratado de paz. Um tratado de paz que foi quase uma rendição do país mais armado e poderoso do mundo diante de um povo que até hoje come arroz com duas varetinhas chamadas #hashi.
Porque a vitória política é o ingrediente prioritário de qualquer guerra. E, politicamente, nessa guerra genocida de Israel/EUA contra o povo palestino, um povo que sequer tem direito a um Estado, as armas poderosas de Israel, não tem sido suficientes para a rendição de um povo que já não tem casa e comida passou a ser artigo de luxo.
Guardem essa data, 25 DE FEVEREIRO, um domingo que parecia ser igual aos outros.
Foi ontem, domingo, 25 de FEVEREIRO DE 2024 que os dirigentes de Israel, Benjamyn Netanyahu e dos Estados Unidos, Joe Biden, começaram a dar os passos na estrada da derrota. Foram acontecimentos distintos, mas acontecimentos simbólicos desses que chacoalham as almas das sociedades.
O primeiro foi de um ineditismo impressionante. Um militar americano da Aeronáutica, ateou fogo no próprio corpo, em frente à embaixada de Israel, em Washington. Conheço a área. É chique. Gesto que marcou a guerra do Vietname, quando monges budistas se imolavam nas montanhas do Tibet, seus corpos queimando em protesto contra a guerra do Vietname.
Antes de ser socorrido, o militar americano gritava “não quero ser cúmplice de um genocídio”. Era um grito cansado porque ele estava com dificuldades de respirar. Os serviços secretos dos Estados Unidos mantém sigilo sobre seu nome e patente e ele está em estado grave, ainda ardendo internamente e caso não consiga sobreviver ao sacrifício, as ruas dos Estados Unidos vão assistir manifestações contra Joe Biden. Manifestações que possivelmente o derrotem nas eleições de novembro.
O mesmo aconteceu com Trump. Em maio de 2020, ele parecia ter uma vitória incontestável para a reeleição. Mas no dia 26 de maio, sem ar, o negro George Lloyd, com as botas de um policial branco no seu pescoço sufocado, dizia, “eu não consigo respirar”. Foi o suficiente para levantar um país inteiro. E em 12 de junho, na primeira pesquisa pós-Lloyd, Trump estava no tobogã que o derrotou.
Portanto, Biden devia acender velas e se preparar.
Horas depois, da tentativa de imolação do militar americano, em Tel-Aviv, uma multidão de manifestantes ocupava as ruas da capital de Israel pedindo o afastamento imediato do primeiro-ministro, o genocida Netanyahu. A manifestação foi convocada pelos familiares dos reféns que ainda se encontram nas mãos do Hamas em local incerto, talvez até em outro país. Eles estão há 144 dias nas mãos do inimigo e o país mais armado do Oriente Médio não consegue resgatá-los.
Na manifestação, que seguia de forma pacífica, os israelenses sentiram na pele o ódio que poreja nos corpos sionistas, notadamente do carniceiro Netanyahu. A polícia de Tel-Aviv baixou cassetetada nos manifestantes, gás lacrimogêno e gás de pimenta eram jogados contra a multidão. Familiares dos reféns do Hamas foram presos. Sim, repito, FAMILIARES DOS REFÉNS DO HAMAS FORAM PRESOS pelos policiais de Israel porque carregavam cartazes exigindo todos os esforços para trazer os filhos de volta para casa.
Esses dois acontecimentos marcam a derrota política dos senhores da guerra. A depender da sobrevIvência do militar que tocou fogo no corpo, caso aconteça o pior, Joe e Jill já devem começar a encaixotar seus pertences pessoais e marcar a passagem de volta a Newwark.
Quanto a Netanyahu, esse, a cada dia assiste a derrocada de seu sonho poder absolutista.
Porque a guerra, como muitos outros atos, até aqueles que parecem inúteis, está sempre condicionada à vitória política.
Aí estão dois personagens da luta de defesa dos camponeses do sul do Pará. Os padres Ricardo Rezende e Aristides Camio. Os dois enfrentarem a ira dos pistoleiros e do Estado brasileiro sempre conivente ou cúmplice de grande grileiros, fazendeiros e madereiros que infestam uma das mais conflitadas regiões do país. Ricardo escapou de muitas emboscadas de pistoleiros, Aristides, e seu colega François Gouruiu, sentiu a mão cruel do Estado quando foram encarcerados e acusados de incitar a luta de classes. No caso, porque estavam ao lado dos camponeses, muitos deles assassinados por pistoleiros, e as sempre aliadas forças policiais do Estado.
No diálogo entre esses homens que viviam se desviando das balas e ameaças de morte, eles se referem a uma das muitas loucuras que fiz em defesa da “terra para quem nela trabalha” e em nome de um jornalismo que buscava equilíbrio da informações “oficiais” e a dos povos esquecidos e inivisibilizados pela imprensa.
Minha loucura tinha a benção da Igreja Católica, religião na qual fui educada, igreja que respeito por sua resistência contra os dominadores. No caso específico, não apenas a benção, mas a cumplicidade de um homem, o bispo DOM LUCIANO MENDFES DE ALMEIDA que ,à época dos fatos, era secretário-geral da poderosa CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, a quem sou agradecida inclusive pela integridade física de minhas filhas quando fui ameaçada pelas bombas da direita, em 1978.
Igual a tantas outras aventuras, quase sempre perigosas, que vivi, essa também tem sua cota de comédia.
Os missionários franceses, Aristides Camio e François Gouriou tinham sido presos. Tudo porque na celebração da missa, em São Geral do Araguaia, célebre por ter sido a sede de uma das mais aguerridas guerrilhas rurais do Brasil, Camio se referindo à impotência dos camponeses contra os fazendeiros e pistoleiros disse, “um marimbondo sozinho não faz nada. Muitos marimbondos juntos incomodam”. A frase foi suficiente para que os dois caíssem nas garras do Estado.
Os presos foram transferidos para a carceragem da Polícia Federal em Brasília.
Numa sexta-feira, na sala de imprensa da CNBB, Dom Luciano disse que visitaria os presos no dia seguinte. Escrevi minha matéria ali mesmo e fui tomar café com as freiras que fazam deliciosos biscoitos. Sentadinho e quieto numa das mesas do refeitório, Dom Luciano fazia seu lanche da tarde. Ora, meu instinto jornalístico disse “Ôba, é agora”. Dom Luciano gostava muito de mim. Sentei perto dele e, como se fosse muito simples, disse, “Dom Luciano, eu vou com o senhor visitar os padres presos”.
Na sua santa quietude, ele me olhou como se eu anunciasse a disposição de incendiar Brasília. Não e não, ele respondeu.
Choraminguei, reclamei da vida, falei que assumiria toda responsabilidade, ça vá sans dire, só faltei me ajoelhar para beijar a mão do bispo.
E ele, impávido colosso, parecia inatingível quando, de repente, quem sabe o ‘Espírito Santo” estivesse ali por perto, perguntou. “E como vamos fazer?”, Youpiiiiiiiii!, meu grito de guerra ressoou pelos corredores da CNBB. Deve ter sido inclusive ouvido na Nunciatura Apostólica, construída ao lado do pédio da CNBB.
Eu já tinhao figurino certo. E respondi, “ora, vou vestida de missionária que trabalha nos confins da África”. Claro que Dom Luciano achou impossivel porque sempre me vesti feito hippie, bem colorida, saias largas e túnicas, cheia de colares e chapéu.
Dom Luciano duvidando, disse, “tudo certo, mas vamos juntos para ver se aprovo essa sua roupa de missionária”. A visita começaria às duas da tarde.
Pouco depois do meio-dia, telefonei para meu jornal (Foha de São Paulo) e disse, “olha, se vocês nao tiverem pressa, às cinco tenho matéria exclusiva e explosiva”. Não adiantei o assunto, mas contei com a confiança que eles depositavam em mim.
De saia preta estampada de delicadas florezinhas brancas, blusa branca com viés preto e botões pretos, cabelo com um coque de secretária executiva do Banco Mundial, um belo crucifixo em ônix que mamãe tinha comprado na Espanha, uma Bíblia pequenina e preta na mão. Comprei numa livraria no caminho. Bolsa preta com meus documentos, dinheiro para táxi e um terço.
Dom Luciano riu discretamente e só faltou abrir a boca de espanto. Mas, no fundo ele sabia da minha capacidade de ser quem quero ser.
Passamos tranquilos pela vistoria da PF. Ainda disse amém com as mãos juntas quando o moço da PF fechou a bolsa de tão inocente conteúdo.
Minha memória é boa. Não precisava de lápis ou papel para anotar todas as informações.
Na sala onde os padres estavam presos, um início de conversa absolutamente protocolar. Cinco minutos depois, comecei as perguntas. E foram muitas. Meu Deus do céu, eu tinha um diamante bruto na minha mão e a cabeça num furioso redemoinho de letras e frases se encaixando.
Padre Novack, que dirigia o carro da CNBB com Dom Luciano, me deixou na esquina do jornal e, no domingo, a “Folha de São Paulo” anunciava em letras grandes e pequenas que o morto durante a emboscada que os camponeses fizeram não era um policial militar do Pará. Era pistoleiro dos grileiros que expulsavam os camponeses sem terra. Era a prova explícita de que os agentes do Estado serviam aos interesses dos selvagens fazendeiros,
E eu, que nem estava de plantão naquele sábado de aventura, no domingo li a matéria que estava bem tratada, li os jornais do dia na banca da esquina, peguei minhas filhotas e fui para clube, com a consciência de dever cumprido*
*Muito cedo, bem antes dos 20 anos, honrando a tradição de minha famĺia, fiz minha profissão de fé para a vida. A de defender os dominados contra os dominadores. Fossem quem fossem. E continuo leal a esse prncípio,
Sou de natureza aquática. Ou seja, choro igual bezerro desmamado. Choro quando assisto “Casablanca”, sempre na mesma cena. E já asssisti 78 vezes. Contadinhas no caderno. Choro quando a mata queima e sei que os bichos das matas estão correndo desesperados. Choro quando vejo imagens das crianças palestinas, choro quando uma criança está chorando de sofrimento e eu não posso ninar. Devo ter um aqüifero de lágrimas em algum lugar do meu corpo.
Mas comecei a ler a tese da minha filha caçula e aí derramei as águas do Xingu, do Amazonas, do Araguaia, do Anil, do Branco, do Caomé, do Uaricoera todas essas juntas escorreram e ainda estão escorrendo dos meus olhos.
Sempre quis ter filhas. Eu queria ter seis filhas, mas a Natureza não me ajudou porque a Natureza é sábia e sabe que só tenho dois braços. Então, ela me concedeu duas filhas. E tenho orgulho das duas. Elas fazem bem o que elas escolheram fazer. Jamais criei expectativa para que elas fossem isso ou aquilo. Mas sempre tive dois sonhos. Que elas fossem felizes e fizessem bem feito o que elas escolheram fazer na vida. E assim aconteceu.
Comecei a ler a tese da minha doutorinha que quano criança queria ser bailarina, astronauta e cientista e hoje é professora e posso dizer que é cientista porque Antropologia é uma ciência que exige amor e saber.
Quando esbarrei nos agradecimentos, comecei a chorar. Nossas vidas juntaas passaram na minha frente. Decidi trazer aqui a parte dos agradecimentos que me diz respeito e me encheu de vaidade e de saudades de duas menininhas que são meu tesouro.
Segue aí o texto que faz parte dos agradecimentos da tese.
“Entre os colegas e amigos seniores, os diálogos francos com Aristóteles Barcelos Neto me
estimularam a continuar e não me desviar das sendas etnográficas. Miguel Aparício Suárez, agora
compadre, a quem sempre recorro com dúvidas e dilemas, me estimula e impele a continuar. Na
França, Nathalie Pétesch me apoiou e estimulou, além de ter provido a karajologia com um dos seus
insights mais importantes, que é o da estrutura triádica. Os antropólogos que frequentaram a casa da
minha infância foram certamente o primeiro chamariz a essa ciência e a esse mundo fascinante e
cheio de desafios. Patrick Menget, Nathalie Pétesch, Dominique Buchillet, Bruce Albert e,
tardiamente Christian Geffray: vê-los ir e vir de campo, ver suas longas esperas por autorizações da
Funai naqueles anos 1980, acompanhar de perto seu envolvimento não apenas com os índios
enquanto fornecedores de dados interessantes mas enquanto parceiros, amigos e sujeitos que
precisavam de apoio contra as invasões, as injustiças e os massacres. Crescer vendo seu trabalho e a
luta em conjunto com os índios certamente formou boa parte da antropóloga que me tornei.
Agradeço a Ricardo Cavalcanti-Schiel que me apoiou e deu suporte nos tempos em que
dividimos nossas vidas.
À minha família por afinidade agradeço a Fernando, Cida e Laís Geiser, pelo suporte e
apoio. Especialmente a Cida por ser minha leitora entusiasta e por fazer perguntas que me mostram
como devo me expressar para ser compreendida por leitores não especialistas.
Na minha família, certamente nada disso existiria se eu não fosse filha de Memélia Moreira, jornalista combativa e apaixonada por sua profissão e pela causa indígena. Essa mulher
forte, “minha doce guerreira” que vi virar tantas noites misturando escrita, pranto, luta e luto. Sua
generosidade sem igual trouxe ao meu universo infantil histórias, índios, antropólogos, indigenistas,
sertanistas, todos na mesma minha casa, que já foi chamada de “QG do indigenismo brasileiro” por
um certo antropólogo francês.
A meu pai, Kristian Schiel, que foi ao Xingu muito antes de conhecer minha mãe, me
ensinou a amar “todos os matos do mundo” e me apresentou Karl May e Winnetou, o apache que
encanta todo menino alemão, de Kristian a Curt Nimuendaju.
A minha irmã, Cristina, que compartilhou comigo essa infância sui generis, foi meu ponto
de apoio nas idas e vindas de campo, primeira casa que me recebia quando eu chegava das viagens.
À família que fundei. Agradeço ao Gustavo Geiser por todo o carinho, o apoio, o suporte, a
amizade, o diálogo absolutamente franco em todo e qualquer assunto. E finalmente, agradeço a Iara
e Mathias por me mostrarem a cada dia tudo o mais que há nessa vida.”
John Adams, o segundo presidente dos Estados Unidos e considerado um dos “fundadores” do país, era terrorista. Promoveu inúmeras ações de sabotagem contra a Inglaterra, na época governada pelo rei George III.
Os revolucionários franceses que derrubaram a mais absolutista das monarquias e passaram a guilhotinar reis e nobres, também eram terroristas. Foi lá que a palavra triunfou.
Toussaint l’ Overture, herói da independência do Haiti, em 1804, era terrorista e morreu numa prisão francesa.
Mas, com a prisão dos “terroristas” franceses o termo ficou escondido por mais de três séculos até que nos anos 60, os combatentes da FLN que lutavam pela independência da Argélia contra o domínio francês foram “agraciados” pelo adjetivo. O Estado francês se encarregou de resgatá-lo. Mas o grupo paramilitar de extrema direita da OAS (Organisation Armée Secrète) que inculsive tentou matar o general de Gaulle, jamais foi chamada de terrorista. Porque a expressão “terrorista” jamais se aplica à Direita.
Quem gostou muito da retomada do termo foi o os EUA que, dois anos depois da independência da Argélia, começava a implantar ditaduras de norte a sul da América Latina. E a linguagem escolhida pelo Império para assustar aquelas camadas da população desinformada e miserável demais para se informarem, foi a linguagem do medo. Nada melhor do que o uso da palavras palavras “”terror” e “terrorrista”, porque no inconsciente coletivo elas estão associadas a violências, torturas, mortes.
E foi assim que a palavra “terrorista” iniciou uma nova era. Ela serviu e vem servindo há mais de séculos para designar povos ou movimentos que se levantam contra Estados ou sistemas políticos que vampirizam corpos e mentes dos miseráveis.
E com essa palavra mágica, floresceram então as ditaduras no continente latino-americano, todas elas sob o manto protetor dos EUA.
parir daí, políticos que se opunham à dominação do Império carregavam nas costas o aposto “terrorista”. Do Brasil à Colômbia, da Argentina à Bolívia, do Uruguai ao Chile, os terroristas se espalhavam lutando em favor das liberdades.
Deu certo por muito tempo, mas o desespero do povo desvitalizou a palavra. Ela perdeu a força e migrou para outros continentes onde os povos começavam identificar os responsáveis por suas desumanas condições de vida.
A situação ficou tão séria que a ONU decidiu criar um grupo de estudos para classificar o que é e o que não é terrorismo. O grupo foi criado nos anos 90 mas, até hoje não avançou. Esse impasse só favorece os impérios que, controlando todos os meios de informação, rotulam todos aqueles que se opõem o poder dos novos colonialismo.
No meu dicionário pessoal e, não autorizado, “terrorista” é toda aquela pessoa ou grupo que luta pela soberania de seu país e pela liberdade do seu povo.
Nem sei se é sintoma das mudanças climáticas, só sei que esse ano, o inverno transformou-se na mais rica das estações. As temperaturas ainda exigem um casaco. Mas não um manteau, cachecol e luvas. Em compensação, os passarinhos começaram a cantar nas árvores do jardim, como se fossem arautos da primavera. E algumas flores, despontaram. Digo despontaram e não desabrocharam por uma razão simples. Desabrochar é um processo lento, semelhante à transição da infância para a adolescência. Despontar é sempre inesperado, rápido, do dia para a noite, elas surgem vibrantes. A prova está aí, na primeira imagem.
Mas o chão, coberto de folhas que continuam despencando das árvores, é a cara do outono, quando as folhas lentamente fabricam o manto que vai cobrir e proteger as raízes do fundo da terra contra o frio do inverno.
E o inverno continua presente no abacateiro de flores queimadas pelo frio. Mas não tente arrancar essas folhas. Elas continuam lá, esperando suas sucessoras que já despontam bem aos seus pés.
A única estação fora dessas festa é o verão. O inverno jamais convidaria o verão para esse encontro amistoso entre as estações do ano. E as três estações que Vivaldi nuca viveu, distribuem-se harmoniosamente no meu jardim.
Braga Netto, Augusto Heleno e outros militares menos jornalisticamente glamourosos, investigados.
A nudez moral exposta ao vulgo. Mas eu ainda estava insatisfeita. Sentia falta de um elemento no mosaico assustador construído pelo ex-presidente de corpo disforme e alma pútrida.
Ontem, finalmente, nas franjas da “Tempus Veritates” a investigação que escancarou as podres entranhas de um pensamento que ainda frequenta integrantes das Forças Armadas surgiu a figura grotesca de mais um personagem. Um personagem sinistro que condenou a população de Manaus que se contaminou pelo Covid a morrer não em fornos crematórios ou câmars de gás. Apenas negando a elas o direito de respirar, porque não comprou oxigênio e , ao mesmo tempo, fazia sua caixinha para ser eleito deputado federal, como se a Câmara dos Deputados, a nossa casa fosse valhacouto. Lá está ele, Eduardo Pazuello.
É mais um golpista nu em praça pública. Ainda bem que é nudez moral porque se fosse física, como se não bastasse o que passamos, seríamos submetidos também a um atentado à estética.
E, para completar o início da Quaresma que é tempo de reflexão, ontem também a organização criminosa da família que dominou o Brasil por quatro anos deu as boas vindas ao seu mais novo elemento. Jair Renan foi indiciado. Crimes pequenos por enquanto. Lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e uso de documento falso.
Ele estava apenas em treinamento para receber o distintivo da gang.
Budapest sempre foi uma cidade que me atraíu. O fato de saber que em 1900, aquela cidade vibrante abrigava 19 jornais diários, além de ser a terra de tantos escritores que me fascinam, são motivos suficientes.
Estava com mamãe em Paris e decidimos ir a Viena, que fica a três horas de Budapest. Além disso, eu tinha uma “tarefa” política. Não falei da tarefa para ela. E nem podia. Era um tanto arriscada. Insisti muito para irmos à capital daquele país cuja língua é alófila e, segundo Chico Buarque, “até o Diabo respeita”. Mamãe recusava. Até que decidiu negociar e disse, “só vou a Budapest se você aceitar ir comigo a Veneza”. Era minha vez de recusar. Nunca tive atração por Veneza porque sempre tive certeza de que era um cidade cenográfrica criada pelos estúdios de Hollywwod. Mas, eu queria e precisava ir a Budapest.
Aceitei.
O Muro de Berlim havia caído pouco tempo antes e os países que integravam a União Sovética viviam um certo tumulto. Na fronteira, fomos paradas. Não tínhamos visto. Como assim, me dão todas as informações para chegar, me dão os microfilmes e não me avisam do visto.
Entrei em pânico. Morta de pânico não por causa do pobre do funcionário da fronteira com um casaco que não segurava aquela temperatura. Meu pânico era mamãe descobrir o quê eu estava aprontando. Depois de várias negociações das quais participou o embaixador do Brasil, fomos liberadas. Entramos naquele país que exerce em mim tanto fascínio.
Hotel Géllert e a única língua que eles falam além de húngaro é alemão. Ainda bem que sei alguma coisa de alemão e de fome não ia morrer. Cumpri a tarefa e só contei pra mamãe quando ela fez 80 anos. Ela só fez rir.
Mamãe amou Budapest. Passamos o tempo andando a pé por Pest, e o Danúbio, cinza.
Enfim, voltamos e eu assim um tanto reticente porque ia chegar em Veneza. Não estava psicologicamente prepara para uma cidade cenográfica.
Mal descemos na estação meu coração disparou. Fiquei tonta. Foi como se o planeta tivesse parado rotação e translação. Mamãe foi descansar e eu andei pela cidade sozinha, sem me perder, por mais de cinco horas. Não era cenográfica. Era a cidade onde os anjos dormem e a única rima que encontrei para descrever foi “Beleza”.
No dia seguinte, muito, muito frio, fomos andando para encontrar um lugar simpático para almoçar. Mamãe parou em frente ao mar Adriático. Havia gôndolas ao fundo e eu disse, “pare, minha senhora. Eu quero essa foto”
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